quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Uma reflexão após apresentação na 3rd Conference on Arts Based Research and Artistic Research.





De hoje - diário de Bordo.
Como uma manifestação do conhecimento acumulado com as experiências atravessadas.
Assim foi a minha apresentação no 3rd Conference on Arts Based Research and Artistic Research. Nas dúvidas da construção de como falar, porque falar, o risco assumido ao pesquisar o Desenho e o ensino do Desenho e a tensão entre teorias e práticas, as pontes que desenvolvi ficaram presentes.
Foi difícil por razões de apropriação científica no jogo político que rege as instâncias da Arte/Educação que muitas vezes se detêm em assumir uma visão ou outra e esquece dos problemas e das necessidades dos professores que estão nas escolas e do sistema das políticas educacionais na área. 
Desses problemas escolhi o que me causava mais mal-estar, o Desenho e o seu ensino, por continuidade, seu aprendizado. Dos temores, dos medos evidentes, fui desenhando nesta pesquisa e sei que não poderia ser de outra forma. 
Como pesquisar uma prática artística tão multi, inter e transdisciplinar (MIT) sem assumir um processo criativo? 
Como envolver-se a/r/tograficamente e autoetnograficamente com um problema investigado sem experienciá-lo? 
Para mim isso foi impossível, e procurei mostrar as barreiras do que se vê como estudos e investigações na Arte/Educação e quão necessária é para nós que estamos na universidade irmos às fontes, parar com a preguiça de ler a visão de fulano que citou o sicrano etc etc. 
É essencial para que nosso campo dê realmente um salto crítico se dialogarmos mais com nossos próprios olhos, não ficar também no lugar-comum dos modismos teóricos e práticos.
O que meu contexto traz e o que outros contextos trazem? 
Esse devia ser o ponto de partida para qualquer pesquisa na área de Arte e especialmente na Arte/Educação, no meu caso da apresentação de hoje, foi um ponto pra minha pesquisa em Arte/Educação baseada nas Artes Visuais. 
Nesse modo, não tenho medo de ser encarada não como uma teórica, mas como uma terrorista, pois a subversão a um sistema estandardizado, escolarizado que entrega pronta as questões e as possíveis respostas aos estudantes, ao ensino, à produção artística e a pesquisa... é mais que necessária....
Talvez eu queira muito, eu sonhe alto, mas não desisto dos meus sonhos. Cansei de ver gente que está na docência universitária proclamar entre congressos, seminários, conferências, palestras e nos corredores das instituições pelo mundo nas pontes que tenho tecido, reclamando de que o paradigma persiste. O quadrado persiste, o triângulo persiste, a linha reta persiste... 
Por que não posso eu desenhar uma sinuosidade de caracol, como dos meus cabelos? Por que não divergir? 
Não estaria eu fugindo da minha função social e profissional como docente ao esquecer do que é ensino e aprendizado? 
A divergência nesse caso é fundamental. Divergência pra crescer junto. Quanto mais divergência melhor, pois conhecendo os pontos diferentes e as suas mutilfacetas encontramos os pontos em comum e nisso, todos progridem. 
Não há como uma docência universitária em Arte/Educação existir na contemporaneidade, que se veja crítica, reflexiva, emancipadora, e quiçá agonística, se se prende em uma convergência de fatores teóricos e de ações exercicizadas. 
Sou a favor de novas figuras, de novos olhares e também de velhos, pois no passado também encontramos verdades, quem sabe seja isso.
Se cada um procurasse ampliar a sua visão e suas lentes ao invés de usar as lentes alheias sempre, o caminho fosse mais holístico.
Não sei. Entendo neste ponto que a realidade é colonialista e não sou descolonialista.
Não há como descolonizar este sistema tão arraigado em nossas universidades, é além de difícil, é intransponível, mas será? 
Pra mim, aceitar a colonização é parte do processo, aceitar, entender, interpretar, mostrar aos meus colegas e estudantes seus absurdos suas idissiocracias, quem sabe conhecendo bem, tendo um olhar próprio sobre estes esquemas arraigados nas epistemologias, quem sabe aí apareça um movimento se não de questionamento, mas trazendo um outra possibilidade de experienciar e isso dê alguma ruptura no paradigma, reciclando-o de acordo com os contextos. 
Esta é minha esperança, é por isso que estou aqui tão longe do meu solzinho e dos ambientes que me aquecem a alma. O coração vai bem, a saúde controlada, a tese caminhando a saltos depois de uma trajetória entre pontes, com algumas pedras e percalços. 
Se fosse simples não seria pesquisa, se fosse apenas propedêutico não seria ensino e se fosse uma cunha básica da prática artística não se configuraria como Desenho. Por essas e tantas outras razões eu Desenho e procuro um Designare.